quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O GOL DA SALVAÇÃO (ou "O dia em que Walter Prado jogou contra o menino Pelé")


Recorte do jornal "A Gazeta Esportiva", de
17 de agosto de 1959. Acervo da família de W. Prado.
Logo na primeira vez que abri o baú de recordações de Walter Prado, um dos maiores atacantes de Anchieta, pude perceber que ele era extremamente caprichoso e organizado.

Por muitos anos, ele manteve o hábito de recortar todas as manchetes e reportagens de jornal nas quais ele apareceria e de colá-las cuidadosamente em grandes livros-catálogos comprados na famosa Papelaria União, localizada na Rua do Ouvidor nº 77.

Junto com os recortes, ele fazia questão de escrever, à mão ou a máquina, a data da reportagem e o jornal que publicou.

Então, como conseguiu obter certo sucesso na carreira, o veloz centroavante encheu alguns livros com recortes de O Globo, A Gazeta Esportiva, Última Hora, Diário de Notícias, Correio da Manhã, Jornal dos Sports, O Cruzeiro, Diário da Noite e foi até destaque em algumas edições de A Notícia na época dos Rodrigues, sem contar com outros jornais da época.

Na maioria das vezes, as notícias eram sobre seus gols ou sobre as façanhas dos times pelos quais jogou. Em poucas ocasiões, até para ser honesto com a sua história, Walter Prado colava também suas decepções, como a dolorosa derrota do seu surpreendente Bonsucesso para o São Cristóvão por 3X0 no campeonato carioca de 1955, resultado que nem os grandes times do Rio conseguiram.
Mas teve uma reportagem que, se não fosse o gol da salvação, o camisa 9 faria questão de não guardar. 

Diferente do que foi milagrosamente estampado no jornal, a história integral só não foi esquecida de vez porque os integrantes da "Boca Maldita" (parte da pequena arquibancada do Barbosão, também conhecido como Campo do Anchieta, onde velhos ex-jogadores se reúnem para falar mal do presente, do futuro e um pouquinho do passado) fizeram questão de me contar.

Em 1959, pelo campeonato paulista, coube ao Taubaté de Walter tentar acabar com a invencibilidade do Santos, que tinha um menino bom de bola, um tal de Pelé.

O camisa 10 ainda não era Rei, mas já incomodava demais. Sempre foi craque. Por isso, o técnico do Taubaté pediu aos seus jogadores uma "marcação mais forte" para intimidar o garoto.
Embora calçasse 37-38, Walter Prado era um rapaz alto e robusto. E, naquela altura do jogo, bastante irritado também. O aspirante a rei já tinha feito um gol e estava distribuindo fintas e canetas nos adversários.

Já sem paciência, o atacante do Taubaté esperava o momento certo para dar um bote e machucar Pelé. Parecia que seria numa batida de lateral. Estava tudo planejado: a cobrança seria feita, Pelé receberia a bola e ele chegaria forte por trás e jogaria o santista no alambrado.
Mas não deu muito certo. Percebendo a maldade, Pelé deu um balão fantástico em Walter e foi ele quem foi parar no alambrado, bem em frente aos jornalistas e fotógrafos.
Foi uma cena tão humilhante, mas tão humilhante que ganharia todas as capas de jornal do dia seguinte.

E só não ganhou porque o Walter Prado se redimiu com um belo gol de cabeça, estufando as redes de Manga, e o Taubaté empatou com o Santos, que até aquela partida não tinha sentido o sabor diferente ao da vitória. 

É bem verdade que o alvi-azul paulista já não tinha muita pretensão no campeonato e que a partida não valia muita coisa, mas, pelo menos para Walter, foi o gol da salvação... pessoal!
Se não fosse por ele, o caprichoso camisa 9 não poderia comprar nenhum jornal na manhã do dia após a partida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário